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DEÍSMO, TEÍSMO, PANENTEÍSMO, PANTEÍSMO E PANDEÍSMO
As pesquisas1 estimam que 84% da população mundial acredita em Deus e, os 16% restantes, seriam ateus, agnósticos ou pessoas não filiadas a nenhuma religião. O problema é saber, com exatidão, o que cada pessoa ou cultura está pensando quando fala de Deus. Nesse sentido é valido a afirmação “diz-me como pensas o homem e eu te
direi como pensas Deus”, tanto quanto a sua recíproca “diz-me como pensas Deus e eu te direi como pensas o homem”2. Kardec afirmou que as religiões que “não atribuiram a Deus a onipotencia, imaginaram vários deuses; as que não lhe atribuíram a soberana bondade, dele fizeram um deus colérico, parcial e vingativo”3. Temos, então, o
problema da concepção de Deus, em nossas mãos.
Aqueles que acreditam que Deus existe realmente, de forma objetiva e independente do pensamento humano, que Ele é transcendente, que criou tudo, que é
onipotente, eterno, pessoal, vivo, digno de louvor, interessado na humanidade e responde às orações, que atua no mundo material através de sua providência e o
mantém, intervindo de forma direta e pessoal na vida das pessoas através de milagres e que revela seus propósitos para os seres humanos através de indivíduos escolhidos
(Abraão, Moisés, Jesus, Maomé) ou de escrituras sagradas, são denominados de Teístas. Nessa concepção estão os judeus, os cristãos, os muçulmanos e os seguidores das
religões politeístas do passado e da atualidade. Em um padrão costumeiro, mas sem rigor, quando se fala em Deus é provável que os interlocutores estejam se referindo à
ideia teísta da crença judáica, cristã e islâmica, e é utilizado para se referir a qualquer crença em um Deus ou deuses.
Os que renegam essa visão da(s) divindade(s) foram denomindos de Ateístas. Em um sentido amplo, é a rejeição ou ausência da crença na existência de divindades e
outros seres sobrenaturais, num sentido mais restrito, é precisamente a posição de que não existem divindades. O termo ateísmo foi aplicado com uma conotação negativa
àqueles que rejeitavam os deuses adorados pela maioria da sociedade. Era frequentemente usado pejorativamente pelas partes no debate entre os primeiros
cristãos e os romanos. Com a difusão do pensamento livre, do ceticismo científico e do consequente aumento do criticismo à religião, a aplicação do termo foi reduzida em seu
escopo.
Entre o final do XVII e o início do século XVIII, alguns pensadores defenderam que a razão era a única via capaz de nos assegurar o conhecimento da existência de
Deus, rejeitando o ensinamento ou a prática de qualquer religião organizada. Foram denominados de Deístas, em oposição aos demais. Admitiam a existência de uma
divindade necessária, criadora de tudo que existe (diferente do ateísmo), mas rejeitavam a ideia de revelação divina. Postulavam que Deus é uma inteligência
absoluta, impessoal, não antropomórfico (em oposição ao teísmo), totalmente transcendente, ou seja, ele existe, mas não intervém no mundo para além do que foi
preciso para criá-lo. No deísmo a divindade não é uma persona, não responde às orações, não faz milagres, não tem qualquer interesse na humanidade e pode nem
sequer ter conhecimento dela.
O Deísmo é uma postura filosófica-religiosa, e difere tão drasticamente da visão teísta da divindade, que criou as condições para que a expressão ‘Deus dos Filósofos’
ganhasse visibilidade. Nesse grupo encontramos John Toland, John Locke, Anthony Shaftesbury, William Paley, F. M. A. de Voltaire, Jean-Jacques Rousseau e Immanuel
Kant. Apesar de defenderem uma religião natural, fundada na manifestação natural da divindade à razão do homem, eles diferiam muito entre si no tocante ao que
sustentavam, embora se unissem na defesa das crenças religiosas que fossem racionalmente justificadas. Nessa miriáde de ideias, podemos destacar o Panteísmo, o
Panenteísmo e o Pandeísmo. O Panteísmo pretendia uma identificação total entre Deus e o universo, como uma única realidade integrada, ou seja, a crença de que absolutamente tudo e todos compõem um Deus abrangente ou que o Universo (ou a Natureza) e Deus são idênticos. Apesar de algumas divergências teóricas, é quase inevitável uma interpretação materialista da divindade no panteísmo.
O Panenteísmo tentou uma síntese entre o teísmo e o panteísmo, afirmando que o universo está contido em Deus, mas Ele é maior do que o universo. Aqui, Deus é visto
como alma do universo, o espírito universal presente em todos os lugares e no qual todos os seres participam, ao mesmo tempo que ultrapassa todas as coisas criadas. Uma
frase de Paulo de Tarso em Atos4 é famosa como exemplo de possível panenteísmo. Uma terceira corrente, o Pandeísmo, surgiu da mistura do panteísmo com
o deísmo, ou seja, a afirmação concomitante de que Deus precede o Universo, sendo o seu criador e a sua Totalidade. Aristóteles era visto como um pandeísta pela sua defesa
da divindade como o Primeiro Motor, que deu início à criação de um universo, ao qual não estava ligado e não tinha interesse.
O estudo da Doutrina Espírita evidencia que Deus é a inteligencia suprema e causa primária de tudo que existe5 , existe além de qualquer dúvida6 , não tem mistérios nem teorias secretas, tudo deve ser dito as claras, para que cada um possa julgá-lo com conhecimento de causa7 , progride ao lado da ciência modificando-se quando necessário8 , elabora-se como uma religião natural sem culto, sem rito, sem sacerdotes, advogando uma fé que pode encarar de frente a razão em todas as épocas da humanidade9 . Esse entendimento permite situar o Espiritismo como uma filosofia
deísta, por estar ao alcance da razão de todos os homens.
David Monducci
Expositor do NEF
1 Cf. https://www.pewforum.org/2012/12/18/global-religious-landscape-exec/
2 Cf. PENZO, G. - Deus na Filosofia do século XX. 2000, pág. 384.
3 Cf. KARDEC, A. - A Gênese. 1996, pág. 50.
4 Cf. Bíblia da Jerusalém, At 17:28 “Pois nele vivemos, nos movemos e existimos”.
5 Cf. KARDEC, A – O Livro dos Espíritos. 1994, pergunta 1.
6 Idem, pergunta 14.
7 Cf. KARDEC, A – A Gênese. 2008, Introdução.
8 Idem, capítulo I, item 55.
9 Cf. KARDEC, A. – Obras Póstumas. Página 38.
Fonte original: Jornal Dirigente Espírita da USE