NOSSOS CONTATOS : (11) 2985 3994
FILOSOFIA DA MENTE – ASPECTOS DO DUALISMO CARTESIANO E O MONISMO MATERIALISTA
por MIRIAM ZILLO
Expositora do NEF
23/11/2022
“O que pensa o meu pensador é que ele pensa não só com o cérebro, com as sobrancelhas, as narinas distendidas e os lábios comprimidos, mas com cada músculo de seus braços, costas e pernas, com o punho cerrado e o aperto dos dedos do pé.” ¹
– Auguste Rodin - O Pensador, detalhe da Porta do Inferno, 1904
A nudez do Pensador, lembrando os clássicos gregos, exprime a sua dimensão estética e material, bela, mas a posição reflexiva indica uma mente que pensa, que faz conjecturas para além da realidade física, ausente de seu ambiente, elevando-se acima da matéria para entrar no domínio da alma, em busca de alguma resposta no seu próprio interior. Todavia, o seu físico, a sua postura expressa dúvida, sentimento e preocupação. Esses dois lados mostrados nessa belíssima escultura é onde está assentada a dúvida cartesiana.
René Descartes (1596/1650) vai justamente discorrer sua teoria sobre o Dualismo corpo e espírito como duas instancias diferentes e irredutíveis entre si. Esta é a grande discussão, que perdura até hoje sem solução, e que iniciou na antiguidade grega com Platão quando instala os mundos ideal e sensitivo.
O dualismo cartesiano inicia com a proposta de como usar a razão para evitar o equívoco, o engano e chegar a conceitos claros e distintos, evitando preceitos e preconceitos. Evitar as falácias e as dúvidas que existem em todos os setores do conhecimento incluindo a filosofia, pois está o tempo todo em disputas e debates a procura da verdade, este é o objetivo principal de Descartes. São necessários fundamentos firmes e sólidos para atingir essa meta. É aí que o filósofo resolve deixar de procurar a verdade em outras ciências e inicia a busca em si mesmo, numa reflexão profunda sobre o mundo que o rodeia e ele próprio. Busca na razão validada pela matemática, os recursos para obter a certeza do que existe. Embora, desde jovem tivesse interesse na ciência, Descartes não considerava que somente elas fossem o suficiente para se ter um conhecimento fundamentado e geral. A sua própria árvore do conhecimento, com o tronco representando a física, estava sustentada em raízes metafísicas. Percorre a Europa em viagens e experiencias sensíveis que não dão a ele nenhuma certeza já que os sentidos se enganam e produzem mais dúvidas;
“Tudo que recebi, até presentemente, como o mais verdadeiro e seguro, aprendi-o dos sentidos ou pelos sentidos: ora, experimentei algumas vezes que esses sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez.” ²
Analisa o sonho e a vigília, colocando a impossibilidade de distinguir entre os dois e saber qual produz a verdade, pois o que aparece neles não é nítido e não corresponde à realidade;
“[...] lembro-me de ter sido muitas vezes enganado, quando dormia [...] E, detendo-me neste pensamento, vejo tão manifestamente que não há quaisquer indícios concludentes, nem marcas assaz certas por onde se possa distinguir nitidamente a vigília do sono [...]” 3
Pressupõe um Gênio Maligno ou o deus Enganador (dúvida metafísica) que causa enganos na mente através de induções não apropriadas, tais como nas operações matemáticas que podem parecer verdadeiras, claras e distintas, mas estou sendo iludido a pensar assim.
“[...] pode ocorrer que Deus tenha desejado que eu me engane todas as vezes em que faço a adição de dois mais três, ou em que enumero os lados de um quadrado, ou quando julgo alguma coisa ainda mais fácil, se é que se pode imaginar algo mais fácil do que isso.” 4
Dessa forma, Descartes lança a mão dessas hipóteses argumentativas para melhor esclarecer o problema da dúvida e a obtenção de conhecimento fundamentado inteiramente na razão, pois a dúvida levada ao extremo favorece a aquisição de conhecimento claro e distinto, pois o que acreditava ser verdadeiro até então torna-se objeto de dúvida.
Entretanto, o ato de duvidar é permanente e lhe dá a certeza, em suas meditações, o levam a concluir que “Se duvido, penso, portanto existo” culminando em sua frase genial “Penso, logo existo” – Cogito ergo sum – res cogitans. O desdobramento natural dessa frase é metafísico e resume-se em “sou uma coisa pensante”
“Eu sou, eu existo; isto é certo; mas por quanto tempo? A saber, por todo tempo em que penso... nada sou, pois, falando precisamente, se não uma coisa que pensa, isto é, um espírito, um entendimento ou uma razão...” 5
Mas, segundo os críticos de Descartes, seria preciso definir os termos pensamento e existência. Para o filósofo dualista essa explicação seria desnecessária uma vez que para a construção do conhecimento ele não era importante e não se poderia reduzir a identidade lógica à uma substância material uma vez que é a consciência que assegura o conhecimento. Esse raciocínio mostra a prioridade da alma sobre o corpo no que concerne ao saber.
“A análise do conhecimento natural que tenho de mim mesmo mostra que esse conhecimento é insustentável diante das razões de duvidar. Nenhum atributo corpóreo pode legitimamente fazer parte do conhecimento que busco em relação a mim mesmo.” 6
Embora a natureza e função principal do pensamento seja pensar simplesmente, essa essência precisa de um corpo para se manifestar entre os seres viventes. A esse corpo Descartes dará o nome de – res extensa, separando o subjetivo do objetivo, a matéria do pensamento, criando um abismo entre os dois que perdura até hoje – o dualismo cartesiano.
Entretanto, o homem tem inclinação natural de pensar que tudo aquilo que se apresenta a ele de forma concreta e objetiva, isto é, com os contornos próprios da imagem e da matéria deveria ser entendido como certos e claros porque são dotados de nitidez e deveriam ter precedência sobre aquilo que não se pode ver que é o pensamento. E é exatamente o contrário que Descartes tenta provar que o pensamento que não aparece à imaginação tem precedência e maior clareza intelectual.
Esse raciocínio cartesiano provoca uma ruptura séria entre o material e o mental. Definidos como substâncias, pensamento e extensão coexistem no homem pela dualidade corpo/alma. Portanto, o homem é um ser duplo, possui massa, extensão no espaço e movimento, sujeito às leis deterministas da natureza. Por outro lado, possui uma mente que não está localizada, mas realiza diversas funções como recordar, conhecer, querer e não se submete às leis da física. É pura liberdade.
Mas, logo surgiria a pergunta: como essas duas substâncias irredutíveis, espírito e corpo, interagem entre si, sendo que Descartes não nega a relação causal entre elas. Sendo o primeiro filósofo a trazer o problema corpo/mente para a discussão filosófica, não negando o corpo que tem todas as reações de dor e prazer, mas que a maneira de sentir depende da interação dos dois princípios, causando confusão no pensamento.
Ao contrário do dualismo surge outra corrente de pensamento – o Monismo, termo que na filosofia estaria no campo da metafísica, pois afirma que a essência da realidade está fundamentada em um único e original princípio que daria a origem de todas as coisas que existem. O monismo ontológico se refere a uma substância metafísica que afirma que tudo que existe é formado por esse princípio imaterial. O monismo materialista acredita que a realidade se reduz em um composto de átomos que são organizados de diversas maneiras, gerando a diversidade. O monismo espiritualista é o oposto, afirmando que tudo o que nós percebemos tem origem em uma única substância espiritual. E neste ponto que o debate se inicia: a relação entre o físico e o mental.
Enquanto Platão, Descartes e outros filósofos colocavam o homem como sendo uma dualidade – corpo e alma separados um do outro – sendo que a alma tinha a soberania sobre o corpo, outros filósofos mais contemporâneos pensam de maneira contrária, ou seja, uma compreensão materialista eliminativista da natureza humana.
Dentre esses pensadores, um dos primeiros foi Julien Offray De La Mettrie (1709-1751), médico e filosofo francês do período Iluminista e cujo interesse materialista estava em afirmar que o cérebro poderia dar respostas às dúvidas a respeito da natureza humana, opondo-se ao pensamento cartesiano que colocava a res cogitans em destaque para se adquirir conhecimento. Para De La Mettrie, a mente é uma propriedade/faculdade do cérebro ao passo que para Descartes era a marca do obreiro (espírito) na obra. O germe do materialismo lamettriano rompe com o dualismo cartesiano.
“[...] o pensamento é tão pouco incompatível com a matéria organizada, que ele parece ser uma de suas propriedades, ao lado da eletricidade, da faculdade de movimento e da impenetrabilidade.” 7
Em 1748, De La Mettrie introduz o conceito mecanicista do ser humano em seu ensaio “O Homem-Máquina”, analisando tanto o seu próprio corpo como também sua própria alma através de observação e experiencia, chegando à conclusão de que o corpo humano é uma máquina que funciona mecanicamente. Ele afirma nessa pesquisa: "O Homem não é feito de uma argila mais preciosa; a Natureza usou somente uma e a mesma massa, na qual ela somente variou a levedura." 8 Assim, a ideia do ser humano transformado ou conceituado com um artefato mecânico subverte a autonomia do espírito e da consciência, e põe em dúvida, consequentemente, a própria existência divina. Na contramão, para Descartes, o cogito só pode ser percebido em si mesmo e não em outro lugar. O pensamento só pode ser percebido pelo pensamento, pela res cogitans. Não há possibilidade de ser admitido pela res extensa.
A pesquisa lamettriana conclui que o corpo precisa de alimento para se manter forte, ou seja, se não se alimenta a alma enfraquece e perde a vitalidade, ou seja, a alma, se existe, está submetida à matéria. A redução materialista da alma por La Mettrie permite-lhe comparar o homem a um corpo-máquina em que a própria máquina programa a vida do corpo: "Cada indivíduo desempenha seu papel na vida que foi determinado pelos mecanismos propulsores da máquina (capacitada de raciocínio), que não foi construída pelo próprio indivíduo." Dessa forma, os seres humanos se tornam sistemas mecânicos autodeterminantes.9
Como Descartes que se propõe a ver se os animais possuem ou não uma forma de pensamento ou alma que estipule suas ações, também De La Mettrie faz um estudo empírico observacional da natureza tomando o homem como ponto de partida a quem ele compara à estrutura do animal uma vez que ambos estão submetidos às mesmas leis de geração e corrupção. Seu ponto principal está no tamanho e na organização do cérebro donde tira as seguintes conclusões: o cérebro é menor quanto maior for a agressividade do animal e que esse órgão pode aumentar com a docilidade e, segundo a natureza, quanto mais dócil for mais o espírito ganha e mais o instinto perde. Descartes, por sua vez, analisará, no Discurso do Método, as ações industriosas orientadas pela razão e a linguagem, concluindo que os animais não possuem almas.
Para De La Mettrie, os animais não são muito diferentes dos homens, pois tanto o comportamento de um quanto do outro são resultados de uma organização cerebral. Isso tira a inteligência da equação como responsável das ações do homem. Mas, quando o homem desenvolve a linguagem e a domina, por um processo mecânico do cérebro e de educação, ele se torna superior e diferente do animal.
O mecanismo da educação se baseia por regras específicas que produzem um conhecimento através da geração de tarefas que são repetidas e passadas para frente, sempre seguindo a mesma ordem mecânica anterior, num processo indefinido de continuidade. Nesse mesmo raciocínio, sendo um processo mecânico, De La Mettrie sugere que os animais, um dia, poderão aprender e dominar a linguagem.
O cérebro possui disposições organizadas que capacitam o homem a adquirir conhecimento e tornar-se sábio e virtuoso. Para que isso se concretize, essas disposições devem serem trabalhadas com excelência pela instrução regrada e assim se tornar um bem. A organização cerebral é um mérito, ou seja, alguns podem ser melhor beneficiados, e a fonte de tudo o mais, sendo a instrução consequência dessa organização. O espírito cartesiano não toma parte no processo do conhecimento lamettriano.
“[...]todas as faculdades da alma dependem a tal ponto da organização do cérebro e de todo o corpo que estas se confundem visivelmente com a organização da mesma.” 10
Concluindo, De La Mettrie é um materialista monista que sustenta o cérebro como causador e organizador de todas as atividades humanas, necessitando de estudos mais esclarecedores para que essa hipótese se confirme.
Veremos agora outro filósofo da mente, Hilary Putnam (1926/2016) que desenvolve o funcionalismo computacional, sendo o iniciador dessa teoria, explicando que ela consiste no estudo de processos mentais que se tornam estruturas funcionais que se formam em um organismo frente a um estímulo de entrada e saída, obtendo uma resposta. Para sua teoria, o computador é o elemento principal por funcionar uma estrutura de input (entrada) e output (saída), sendo que essa mesma estrutura tanto funciona em um cérebro humano quanto em uma máquina que possa processar informações de estímulo e resposta.
Partindo dessa ideia, o filosofo americano estabelece que o pensamento pode existir a partir de estruturas funcionais abstratas comparando-o com o software (mente ou abstrato) de um computador. Portanto, o pensamento, para existir, não precisa de um aparato físico-biológico (cérebro) semelhante ao do homem, pois hardware pode cumprir essa função.
“O funcionalismo pretendia ser uma teoria completa e abrangente, que explicasse não só das atividades mentais humanas como também as desenvolvidas por sistemas artificiais. Os funcionalistas sustentavam que o mental é o resultado da capacidade de um organismo ou sistema realizar certas funções. Nosso cérebro é um sistema que pode realizar algumas atividades que produzem aquilo que chamamos de mente, mas um outro sistema, como por exemplo um computador, construído com materiais inteiramente distintos, como silício e cobre, será capaz de produzir atividade mental se ele puder desempenhar as mesmas funções realizadas pelo cérebro humano. Pensar é desempenhar um conjunto de funções que frequentemente levam à produção daquilo que chamamos de comportamento inteligente. Vemos por aí o quanto os funcionalistas estavam influenciados pela concepção de pensamento defendida por Turing!” 11
Alan Turing (1912/1954) propõe que se uma máquina apresentar um comportamento exatamente igual ao de um ser humano, não há por que não atribuir a ela pensamentos e estados mentais. Das ideias de Putnam e Turing vão se formando as primeiras iniciativas da Inteligência Artificial. “[...] tanto os seres humanos quanto as máquinas poderiam ser capazes de realizar os mesmos tipos de programa" 12.
Ainda que pela teoria de Putnam as duas formas de pensamento possam indicar um dualismo, em Descartes isso ocorre diferentemente porque o filósofo racionalista uma explicação mecanicista da mente, como querem os funcionalistas num dualismo de propriedade e não de substância como o cartesiano. Para Descartes, a mente é livre e não regida por leis mecânicas como pensam os funcionalistas, portanto o dualismo de propriedade não tem nada a ver com o dualismo de substância cartesiano.
John Searle (1932) é um filósofo analítico, escritor estadunidense interessado no naturalismo biológico, protagonizando que o estudo da mente não deve somente ser abordado pelas correntes materialistas e nem com as propostas da ciência cognitiva (funcionalismo e IA).
A partir do século XX a abordagem sobre o estudo da mente toma outro rumo com o livro de Gilbert Ryle – The Concept of Mind – no sentido de se saber qual a natureza da mente e a questões ligadas a ela. Entretanto, nenhuma resposta concreta se obteve até os nossos dias e evidenciou-se a necessidade de uma ação interdisciplinar, num intercâmbio de ideias para melhor se discutir a filosofia analítica da mente. Mas essa discussão já tinha sido iniciada por Descartes, como dissemos anteriormente, a separação radical entre mente e corpo. Isso provocou no mundo acadêmico questões como identidade pessoal, relação entre mente e corpo, existências de outras mentes mecanicistas materialistas e todo um ceticismo quanto a essas ideias.
Searle apresenta um caminho para a questão mente e corpo que não segue os passos dos filósofos materialistas das ciências cognitivas, pois estes não levam em consideração a consciência e a intencionalidade que são fenômenos mentais. Sua oposição seria se deve ao fato que essas corretes filosófica citadas acima não dão relevância ao aspecto de que a mente existe na realidade e é um fato.
Embora, Searle se diga fisicalista e não nega a realidade composta de partículas físicas e campos de força, como então explicar a consciência, a intencionalidade dos seres livres e racionais. A mente deveria ser investigada no seu aspecto subjetivo e intencional, colocando-se num materialismo moderado, partindo para um conceito mais ontológico subjetivo da mente.
“Como, por exemplo, pode ser possível que o Mundo contenha apenas partículas físicas inconscientes e, no entanto, que contenha também consciência? Como pode o Universo mecânico conter seres humanos intencionalistas – isto é, seres humanos que podem representar o Mundo para si mesmos?” 13
Todavia, para Searle podemos ser dualistas ou monistas, optando pelo dualismo de propriedade ou reducionismo se formos monistas. Se escolhermos o dualismo cartesiano de substâncias, então é preciso explicar a relação entre corpo e mente.
“[...] os fenômenos mentais são causados por processos neurofisiológicos no cérebro, e são, eles próprios, características do cérebro. Para distinguir esta concepção das muitas outras existentes neste campo, chamamos de "naturalismo biológico". Os processos e fatos mentais fazem parte da nossa história natural biológica tanto quanto a digestão, a mitose, a meiose ou a secreção enzimática.” 14
O problema relação mente/corpo é fundamental na filosofia searliana, sendo os demais resolvidos se a primeira questão for solucionada. Para ele, essa discussão ainda não foi solucionada e é de fácil solução, devido a equívocos de linguagem, ou seja, ainda se emprega o vocabulário cartesiano para um problema que ainda persiste na contemporaneidade. É necessária uma atualização dos termos.
“Outra questão é que, por mais que Searle se esforce em se afastar do ranço cartesiano, para alguns autores o naturalismo biológico incorreria num tipo de dualismo de propriedades, visto que propriedades físico-cerebrais causariam algo não físico (mente). Ou seja, para tais autores ainda estaríamos numa distinção mente-corpo ou, no mínimo, entre subjetividade e objetividade, recaindo naquilo que o próprio Searle 15 chamou de linguagem cartesiana inadequada.”
Concluindo, o problema mente/corpo persiste e será muito difícil, senão impossível, de resolvê-lo se não admitirmos a existência do espírito, da consciência. A matéria não faz juízos, não ama, não odeia, não pondera e não traz soluções inteligentes. O dualismo de substâncias é mais confortável, embora não solucione a relação entre mente e cérebro uma vez que são irredutíveis. Ainda se farão muitas teorias para se chegar a uma solução satisfatória e aceita pela maioria. A contribuição cartesiana é importante porque trouxe para a contemporaneidade reflexões importantes para estudarmos e compreendermos em que consiste o homem, qual a sua constituição física e metafísica.
O QUE DIZ A DOUTRINA ESPÍRITA SOBRE O MONISMO E DUALISMO.
Primeiro temos que conceituar o que é Monismo: é a crença de que tudo se origina de uma única substância tanto material quanto espiritual, ou uma ou outra.
No monismo espiritualista a origem de tudo é o espírito. Baruch Espinosa um entre tantos filósofos monistas, é adepto deste conceito, pois para ele Deus, Natura Naturans, é a origem de tudo o que existe – “Tudo o que existe, existe em Deus, e sem Deus, nada pode existir nem ser concebido.”16 (...) “Além de Deus, não pode existir nem ser concebida nenhuma outra substância.” 17 Para Espinosa, entretanto, matéria e espírito são propriedades de Deus que unidos dão origem ao modo de ser ou manifestações divinas que é a natureza, o universo (natura naturata). Assim, se deduz que tudo o que existe são Deus e o Universo.
Para os filósofos da mente monistas materialistas, tudo o que existe tem como origem a matéria. A mente é efeito do cérebro, uma visão reducionista da realidade, segundo a doutrina espírita, uma vez que a matéria, como a conhecemos, é inerte, não se move sem a ação de um agente inteligente.
Dualismo: é uma concepção filosófica ou teológica do mundo baseada na presença de dois princípios ou duas substâncias ou duas realidades opostas, irredutíveis entre si e incapazes de uma síntese final ou de recíproca subordinação. No Espiritismo, existem dois elementos gerais do Universo: a matéria e o espírito (LE27) e acima de ambos Deus, o Criador, Inteligência Suprema, causa primaria de todos as coisas.
O filósofo Descartes trouxe essa ideia dualística para a ciência do século XVI-XVII, afirmando que o homem era constituído de corpo e mente. Isso arrefeceu a discussão sobre matéria e espírito que já havia sido colocada por Platão, pois não se sabia e ainda não se tem uma resposta unívoca sobre como a matéria pode interagir com o espírito se ambos são independentes e irredutíveis entre si. Todavia, na doutrina espírita a comunicação se dá através do peispírito.
Na pergunta 22a do O Livro dos Espíritos, é dito que a matéria é o liame que escraviza o corpo (Platão dizia que o corpo era a prisão do espírito); é o instrumento que ele usa e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua função. O espírito, princípio inteligente do universo, necessita da matéria para se manifestar. No entanto, em nossa condição de evolução não podemos imaginar/perceber o espírito sem a matéria, pois sabemos que um não depende o outro para existir (LE 25, 25a), são distintos, mas é necessária a união do espírito com a matéria para dar inteligência a esta.
Os cientistas da filosofia da mente acreditam que a mente é efeito do cérebro ou do organismo biológico tal como o fígado que produz a bílis. Sem dúvida a filosofia da mente contribui muito para o conhecimento material do cérebro e suas reações físico-biológica-química, mas é insuficiente quanto ao processo racional, mental, sentimental e decisório. Não há perspectiva de uma vida após a morte.
Fazendo uma síntese, a filosofia espírita toma o conceito cartesiano e o espinoziano uma vez que somos matéria e espírito e Deus é imanente em sua criação, isto é, porque “nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração.” 18
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
1 https://arteeartistas.com.br/o-pensador-escultura-de-auguste-rodin/
2 CRC, Filosofia da Mente, U1 - René Descartes e Seus Críticos: Um Debate Acerca da Natureza da Mente, pg. 39
3 Idem
4 idem
5 CRC, Filosofia da Mente, U1 - René Descartes e Seus Críticos: Um Debate Acerca da Natureza da Mente, pg. 40
6 LEOPOLDO E SILVA, F., Descartes, a metafísica da modernidade, Coleção Logos, Ed. Moderna, 5° edição, 1993, pg. 55
7 CRC, Filosofia da Mente, U1 - René Descartes e Seus Críticos: Um Debate Acerca da Natureza da Mente, pg. 42
8 https://pt.wikipedia.org/wiki/Julien_Offray_de_La_Mettrie
9 idem
10 CRC, Filosofia da Mente, U1 - René Descartes e Seus Críticos: Um Debate Acerca da Natureza da Mente, pg. 44
11 TEIXEIRA, J. F. O que é Filosofia da Mente. 2.ed. Porto Alegre: Editora Fi, 2016, pg. 31<Disponível em: https://www.editorafi.org/_files/ugd/48d206_7b9daa43eaf0484fa9566829c55dac91.pdf> acesso em 18/09/2022
12 CRC, Filosofia da Mente, U1 - René Descartes e Seus Críticos: Um Debate Acerca da Natureza da Mente, pg. 47
13 CRC, Filosofia da Mente, U1 - René Descartes e Seus Críticos: Um Debate Acerca da Natureza da Mente, pg. 50
14 CRC, Filosofia da Mente, U1 - René Descartes e Seus Críticos: Um Debate Acerca da Natureza da Mente, pg. 51
15 UZAI, P.J., A relação entre mente e corpo de John Searle, disponível em < chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/143454/uzaijunior_p_me_mar.pdf?sequence=3&isAllowed=y > acesso em 18/09/2022
16 ESPINOSA, B., Ética, primeira parte, Deus, proposição 15, pg 31
17 Idem proposição 14, pg. 29
18 Atos 17:28-30
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
DESCARTES, R., coleção Os pensadores, vol. I e II, Editora Nova Cultural, Ed. 3, 1973, São Paulo
LEOPOLDO E SILVA, F., Descartes, a metafísica da modernidade, Coleção Logos, Ed. Moderna, 5° edição, 1993, pg. 55
MORACA, R. J. Filosofia da Mente. Batatais: Claretiano, 2013. Introdução e Abordagem Geral, p. 7-33. (Caderno de Referência de Conteúdo)
MORACA, R. J. Filosofia da Mente. Batatais: Claretiano, 2013. Unidade 1, p. 35-45. (Caderno de Referência de Conteúdo).
MENON, W. Filosofia da Mente. Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 21-51. (Biblioteca Virtual Pearson).
O Pensador, Escultura de August Rodin, disponível em < https://arteeartistas.com.br/o-pensador-escultura-de-auguste-rodin/> acesso em 15/09/2022
TEIXEIRA, J. F. O que é Filosofia da Mente. 2.ed. Porto Alegre: Editora Fi, 2016, p. 15-27. Disponível em: https://www.editorafi.org/_files/ugd/48d206_7b9daa43eaf0484fa9566829c55dac91.pdf
YOUTUBE. Osvaldo Pessoa Jr – Filosofia da Mente. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CHmU7WubhFw
YOUTUBE. Problema mente-cérebro: dualismo e fisicalismo – Prof. Saulo Araújo. TV Nupes. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=scz7kPKr0tk
YOUTUBE. Mito 02: O Cérebro produz a mente – Prof. Alexander Moreira-Almeida. TV Nupes. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=BxettffMtk4
YOUTUBE. Mente como produto da atividade cerebral – Prof. Osvaldo Pessoa Jr. TV Nupes. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=r6Vd3GzWfwY
WIKIPEDIA - https://pt.wikipedia.org/wiki/Julien_Offray_de_La_Mettrie> acesso em 18/09/2022